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Caminhei, contornando suas poucas árvores e pedras. Chão sem cobertura. Uma tenda improvisada para a piedade diversa. Foi-me a maior emoção já vivida. Aparentemente, não sou dado a emoções; mas tornei-me vulnerável a elas depois que me tornei pai e avô. Tudo traduz um amor que os humanos não veem. A grandeza, por vezes, torna-se maior que a nossa expressão. 

Para que o amor flua, necessário é que as entranhas se abram. Mas, às vezes, não há com quem se abrir. 

No Getsêmani, imaginei-me pisando as pegadas do Mestre. Porém, são passados dois milênios, e o tempo se encarrega de apagar muitas marcas… 

Aquela noite, entretanto, a última antes da crucificação, jamais se apagará na mente de quem esteve no Jardim, pouco florido, e seja capaz de aferir o que se passou no coração de Jesus. 

Ao humano não é dado tanto. Apenas circulei, lentamente, vagando entre pensamentos vários, sentimentos inexplicáveis, repisando fatos idos e vividos. 

O passado, o presente, o futuro. Passado é o que deixamos para trás e de que nem sempre esquecemos. Presente é o inexpugnável – uma realidade insistente e invasiva; toda uma “eternidade” atualizada. O futuro, antecipado; vivido em instantes profundos. Tudo ali, num todo presente. 

Uma simbiose da razão com os sentidos. Nada a pedir. No Getsêmani tudo foi dado – Deus se deu pelos humanos, na agonia que só Jesus sentia. Os discípulos dormiam (Mt 26.36-46). 

Por fim, Jesus só; inapelavelmente só, ao assumir a catástrofe humana do pecado – luz e trevas não combinam (2Co 6.14c). 

O Getsêmani é solidão – quem pensa, quem sofre, quem sente, quem ora, é um solitário. Ninguém o entendia: Jesus está só. Há momentos na vida em que só o céu nos resta (Lc 22.43; Sl 121.1, 2). Se há céu, há tudo! 

Por fim, saímos do Getsêmani, que, hoje, é mais visto como fato histórico ou acidente geográfico. É ponto de turismo para a sanha arrecadadora. Jesus foi para o Calvário consumado; os homens, para a mesmice da vida ordinária. 

Para todos, afinal, a vitória; possível ou realizada. A sexta-feira passou. O sábado é sombra. O primeiro dia da semana é a eclosão. 

“Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos (…) Porque dele também somos geração” (At 17.28).