- dezembro 9, 2024
- Pr. Válter Sales
A sétima VI – O Corpo –
“entrego o meu corpo” (Lc 23.46). Não me refiro ao corpo como estrutura física, biológica. A visão aqui é bíblico-espiritual.
O sentido bíblico de corpo vai além desses arrazoados naturais. Paulo o chama de santuário – “Santuário do Espírito Santo” (1Co 6.19, 20).
E diz mais: esse santuário “está em vós”; “vós o tendes da parte de Deus”; e consuma: “não sabeis (…) que não sois de vós mesmos?”
E mais, ainda, afirma que fomos “comprados por preço”. Que preço? O preço do sangue de Jesus Cristo, derramado, antes e durante a crucificação.
Lá estava Ele, no madeiro ignominioso; sangue espargindo, gora a gota, contando e pagando cada um dos nossos pecados…
Foi esse o preço da dívida, impagável por homens; porém, possível a Deus (Mt 27.6b; 1Pe 1.18-21; Lv 17.14 – assim, Jesus deu a própria vida).
Difícil para nós, presos que somos à nossa visão humana, limitada, digerir a vicariedade da morte de Jesus – o justo pagar pelos pecadores. Fê-lo, de modo cabal, por ser justo e por ser Deus.
Há uma teologia da morte e do corpo. O corpo humano é mortal; o espírito, não. Morreu o corpo humano de Jesus, não o corpo glorificado na ressurreição, ficando os “trapos” da morte no túmulo (Jo 20.6c).
Paulo ensina que é isso que nos acontecerá: “os mortos ressuscitarão incorruptíveis” (1Co 15.52), enquanto os que estiverem vivos serão transformados (53, 54). Mistério de Deus? Como se dará, não sabemos. Nenhuma ciência explica. É questão de fé (Lc 18.27; Mt 19.26b; Hb 11.6). Escatologia não é “prato feito”…
E, no curso do tempo, que nos separa dessa consumação, e que, também, nos escapa, o que devemos fazer com o nosso corpo?
Se, como assevera o Apóstolo, o nosso corpo é “Santuário do Espírito Santo” (1Co 6.19), deverá ser ele cuidado como tal. É no santuário que o Espírito é reverenciado. Deus deve ser glorificado também “no vosso corpo” (1Co 6.20).
Sem descer a detalhes, veja-se Rm 7.1-6, na analogia que Paulo faz do casamento. Quer-se pureza (cf. Cl 3.1-10).
Jesus não se contaminou, conquanto haja assumido o nosso pecado. O seu corpo, pendurado na cruz, permaneceu puro e santo.
A nós outros, hoje, cabe a percepção de que a um filho de Deus não convém envolver-se com o que o corrompa (Tt 1.15), sob qualquer ângulo ou aspecto ou expressão.
Nossa contemporização com o que não resistiria a um teste da ética bíblica, acaba por esgaçar a qualidade de nossa vida espiritual.
A receita de Paulo e de Jesus Cristo está na Sagrada Escritura, a que chamamos de “nossa regra de fé e de conduta” (1Co 10.12; Mt 26.41; cf. Cl 3.17; 1Co 10.31). Nosso alvo último é a glória de Deus.
Grande atitude para com a vida – frágil, vulnerável – é tratá-la no Espírito, em toda a sua demanda (Gl 5.25).
