- dezembro 16, 2024
- Pr. Válter Sales
A sétima IX – Ressurreição e Ascensão –
“… entrego o meu espírito” (Lc 23.46). A declaração foi feita estando Jesus ainda na cruz. A ascensão cumpriu-a, quarenta dias depois (At 1.3-11).
Há alguma analogia com 400 anos de cativeiro; 400 anos de silêncio profético; 40 dias de jejum no deserto? Deixo essas elucubrações à acuidade dos numerologistas de fatos bíblicos.
A mim me interessa mais o que precedeu a ascensão: as falas de Jesus sobre o reino de Deus (At 1.3); a expectativa da restauração do reino de Israel (6); a reafirmação da autoridade absoluta do Pai (7); o recebimento do Espírito Santo pela Igreja (8).
Um imaginoso pregador disse que os discípulos esqueceram At 1.8 e Deus lhes deu At 8.1 – nova revolução em sua vida. Uma igreja presa a “agenda…”, de longe, somente, enxerga os ditames do Espírito. Subtraem-se-lhe imaginação e criatividade, mesmo com alguma coerência com a dinâmica do Espírito Santo a favorecê-la. Falecem-lhe a visão e a fibra dos primeiros cristãos. Veja-se a sequência, não por acaso, de Marcos 3.14 – Estar com Ele. Depois, pregar.
Olhar para cima ou ficar “com a cara pra cima…” é uma expressão típica do sertanejo, quando está a pensar pouco e a fazer nada. Ouvi-a muitas vezes de meus pais, quando me viam indolente. Seria, hoje, uma busca às apalpadelas do “não sei o quê”? Seria uma crise na formação cultural e teológica? Seria, ainda, uma crise de talentos? É tanto possível quanto lamentável.
Preocupa-me a insuflação tanto quanto o enrijecimento da mente. Avultam a ilusão das celebrações, o conformismo modista e a mesmice do ensino. Tudo isto pode levar a convenções seletivas pouco ajuizadas.
Tudo o que Jesus fez antes, durante e depois da cruz, impunha à Igreja uma dinâmica para além de pura pasmaceira, após sua morte e sua ressurreição. Esta, culmina toda a vida do Messias. Sem a ressurreição, tudo seria findo. Não estaríamos nós hoje falando de vida cristã, porque tudo, afinal, ter-se-ia sucumbido na morte. Mas, fixemos Jo 14.19b.
Hoje cantamos com empolgação: “Porque Ele vive, o amanhã espero” ou “Posso crer no amanhã”. A esperança reacende na ressurreição. Hoje nós temos a quem recorrer e de quem receber a resposta – “Porque eu vivo, vós também vivereis”.
Está claro que a ascensão de Jesus Cristo foi precedida de toda uma gama de fenômenos, desde cada palavra do seu ensino até a vitória sobre a morte (1Co 15.55). Da manjedoura ao Gólgota, Jesus é vida. Nele, nós somos vida.
O que hoje conta não é a morte. É a vida! A pregação paulina é sobre o Cristo que “foi crucificado” (Lc 24.6-8). Foi é passado. Ele ressurgiu! A vida é o presente! É um presente eterno, entendimento que só é possível na teologia. Portanto, firmeza e constância… (1Co 15.58).
Voltemos aos discípulos, estáticos e extáticos (não nos confunda a homofonia!). A um tempo, estáticos, paralisados – do Latim, ecstaticus; e extáticos, do grego, ekstatikós, relacionado a “êxtase”. Como em Marcos 9.6.
Veja-se, agora, sobretudo, a dinâmica do Espírito. De começo, paralisados (At 1.10, 11). Novamente a voz vem do alto (10b). Recobra-se a esperança (11b). Depois, outra vez, o conhecido Olival, o cenáculo, uma reunião de oração; é o condicionamento aos pés do ressurreto (12-14).
Abrem-se as portas de todas as possibilidades, quando nos fechamos com Deus nalgum “quarto secreto” (Mt 6.6), seja em nosso santuário interior, intrínseca e reservadamente, seja como comunidade de fé (1Co 6.19; 1Co 12.27).
