banners dos posts (9)

A sétima XII – O Amor –

“… entrego o meu espírito” (Lc 23.46). O amor é não somente a principal virtude, mas a base para todas as demais.

O monumental capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios é o registro paulino da mais luminosa página sobre o Amor. Seguramente, está acima de qualquer descrição do tema, em qualquer literatura.

É fácil notar que Paulo situa o amor acima de questões muito sensíveis e de alta monta em sua vida, tais como a glossolalia, humana e angelical; o dom de profecia, o conhecimento de todos os mistérios e toda a ciência; ainda que tenha uma tão grandiosa fé, que seja capaz de transportar montes; mesmo que se torne um gigante da filantropia e ainda que entregue o próprio corpo ao maior sacrifício – ser queimado, diz ele: “se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1-3).   

Na sequência, o grande apóstolo passa a relacionar o amor com a paciência, a benignidade; a ausência de ciúmes, de ufanismo, de soberba, de conduta inconveniente, de interesse próprio, de exasperação, de ressentimentos, de injustiça (4-6a). São maneiras como podemos adjetivar essa virtude.

“Mas”, e que adversativa impactante! O amor “regozija-se com a verdade” (6b). E mais, ainda, que aferição elevada! O amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (7). Seria esse o amor humano? Prossigamos com o extraordinário Apóstolo: “O amor jamais acaba” (8a). Sua natureza é infinita. Fala-se, pois, do amor como virtude essencial, não de um mero sentimento que venhamos a cultivar em nós, e que pode sofrer com as ondulações do nosso espírito.

Ora, reflitamos: Em Colossenses 3.14, lê-se: “Acima de tudo esteja o amor, que é o vínculo da perfeição”. Nota-se que Paulo está discorrendo sobre “virtudes que devem ser cultivadas” (12-13). Incluem-se “afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade, tolerância, perdão mútuo” (o modelo apresentado é o de Jesus Cristo).

Outro grande Apóstolo, Pedro, recomenda que associemos, “reunindo toda a vossa diligência”, com a fé que dizemos ter, a virtude, o conhecimento, o domínio próprio, a perseverança, a piedade, a fraternidade e, nessa gradação proposital, a culminância – o Amor (2Pe 1.5-7).

Tudo na Sagrada Escritura corrobora esse ideal da vida cristã. É como Paulo fecha seu esplendoroso poema. Na trilogia , Esperança e Amor, confere a este último – o Amor – a supremacia (1Co 13.13).

A entrega do espírito ao Pai foi o derradeiro gesto de amor de Jesus Cristo, enquanto esteve na cruz. Sem a força do amor, nada do que ele fez teria acontecido. Bom momento este para aferirmos o sentido, a verdade mesma, de nossa entrega pessoal a Deus. E isto acima da funcionalidade… É próprio do ser humano ancorar-se no que faz. No Reino de Deus é diferente (Lc 17.10).

A palavra Amor, na magnitude de seu sentido e alcance, é a única virtude que, a rigor, combina essência com ação. Deus é amor, isto é essência. Deus ama, isto é doação da própria essência, em Cristo. Ama aquele que é amor. Ama, em medidas peculiares, aquele que o recebe da fonte. O que é não pode não ser.

Os atributos de Deus serão sempre divinos, como a natureza humana será sempre humana, e precisa ser trabalhada pela Graça de Deus (Sl 66.10).

O grande desafio que Deus põe diante de nós é o de que sejamos. Isto deve ser considerado como algo acima do que podemos fazer. O fazer e o não fazer confundem-se na vontade e nas atitudes humanas, quando apenas circunstanciais. O ser põe-nos acima desse risco para a nossa identidade.

A força do caráter de Deus e de Cristo transpira da afirmação de sua identidade: “Eu sou”. Em nosso caso, humanos que somos, a nós nos resta espelhar-nos no ensino do Mestre Divino (Jo 13.34b). A medida do amor no Antigo Testamento era o próprio homem (Lv 19.18b). O que aparece em Mt 22.39; Mc 12.31 e Rm 13.9c, é reflexo direto do novo modelo – Jesus. Há um aspecto novo: a reciprocidade para unir a comunidade e o modelo, Ele mesmo.

Hoje, apontam-se muitos caminhos e muitas maneiras de expressar o amor, mas só o amar de verdade, com todas as suas implicações, é capaz de ajustar todos os caminhos e aperfeiçoar todas as maneiras de viver. A rigor, o viver sem amar é uma forma de não viver, em analogia com o “Penso, logo existo”, de René Descartes. O genuíno amor jamais se dissocia dos sentimentos mais puros e mais elevados.

Nihil obstat, o amor tem sua origem na perfeição do Ser. E o Ser é eterno.