- outubro 16, 2024
- Pr. Válter Sales
Talvez a reticência seja, dentre os sinais gráficos, o mais sintomático. É que esses sinais não apenas orientam na compreensão da leitura. Mera conjectura, dir-se-ia. Porém, já na educação infantil, sinais de pontuação “são símbolos gráficos que têm como objetivo estabelecer coesão e coerência”.
Meu desafio aqui é mostrar um possível lado sensitivo ou intencional das palavras, sutil e matreiro, indicado por esses sinais.
Para além da etimologia e da sintaxe, sinais gráficos, a juízo particular, momentâneo, indicam uma função extra das palavras. Todavia, a entonação ou se ouve ou se imagina. Mas é fato que indicam a intenção de quem as profere.
– Porventura, sou eu? – Uma pergunta simples.
– Eu?! – Uma pergunta que denota surpresa, cisma.
– Eu?!… – Uma pergunta já eivada de insinuação…
A entonação estabelece a fronteira (ostensiva ou discreta) entre a dúvida (texto anterior) e a acusação.
– Eu?… – Por que eu?
– Eu?!… – Por que eu e não o outro? Judas já era alvo de desconfianças (Jo 12.4-6) – como se esse “político” andasse preocupado com os pobres…
As palavras têm função e “espírito”. Carreiam o espírito de quem as articula. É neste sentido que o falar é moral.
Haveria algum falar solitário? Não está no humano perscrutar tanto, mas nela (a entonação) está a evidência. Nele (o articulador) estão os “porquês”, e o “para o quê”, e o “para quem?” – a subjacência de sua fala.
A palavra é intencional. Pode ser usada para comunicar ou para atingir um alvo, recolhido ou amplo. Tal é a reconhecida capacidade do teatro, em suas necessidade, verossimilhança e catarse. Valha-nos a ironia dos textos de Machado de Assis, mirando contextos – o apelidado “Bruxo do Cosme Velho”, por queima de documentos pessoais (cartas).
É preciso cotejar o sentido das palavras, evitando, claro, o despropósito dos julgamentos. O falar é ético, moral, na teoria, na prática e na intenção.
Fonologia. Algum dia ousará pronunciar-se sobre as intenções ou subintenções da fala? Não há no seu bojo o “Modelo Quimérico”?
Não há o disfarce? Há. Mas toda ousadia tem um quê de boa intenção.
