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Imagino um silêncio quase sepulcral do corpo discipular, quando Jesus indicou quem seria o traidor. Estupefação ou alívio fazem-nos emudecer.

Em vários momentos de seu ministério, o próprio Jesus ficou em silêncio ou ordenou que nada dissessem, para estranheza dos discípulos. Muito de sua vida foi coberto de mistério, que também incorpora o encanto. O mistério se compraz no silêncio, como estratégia ou como consciência da hora. 

Não há epifania que o não exija. Tal foi o que restou a Pedro, Tiago e João, no monte da transfiguração (Mc 9.6). A nós outros hoje nos falece o verbo e nos desafia o silêncio como expressão viável ou coerente. 

Não há falar quando não há expressão ou quando suas razões são questionáveis ou quando inoportuno seja o falar (Pv 25.11). 

Desde sempre foi assim. Quando Deus fala ou age, nós nos calamos (Êx 14.14). É-nos destinado o ouvir mais do que o falar (Dt 6.4; 1Sm 3.9b; Tg 1.19b).  Decerto, esta é a lição primeira a ser aprendida por um filho de Deus. 

A morte de Jesus na cruz do Calvário impôs silêncio a todos, pois não havia como alguém verbalizá-la. Também, hoje, nossas palavras são ínfimas para tanto. 

Por muito que se diga, jamais se aferirá a grandiosidade do feito divino. 

Mas, de ordinário, somos apressados no falar. Isto se deve provavelmente às nossas limitações ou carências. 

Por exemplo, nas orações. Há, avalie-se, até quem ouse “direcionar” Deus, indicando-lhe o que Ele deverá fazer, isto é, o que se quer que Ele faça. Outros chegam a lembrar a Deus sua palavra nas Escrituras. 

Essa “febre diretora” se excede em determinar uma agenda para Deus – local, dia e hora e, ainda, o que Ele fará. Isto diz de analfabetismo bíblico e teológico, ou desmedida presunção. Felizmente há como arrancar essa raiz egoísta. 

Porque o demasiado falar envolve relações inter-humanas, também fere princípios éticos. E como descambou a ética nos arraiais da religião! 

O silêncio pode fomentar sabedoria, prudência, grandeza. 

O perigo do falar em demasia é que ele sempre se associa a intenções do coração. Palavras são ações nos efeitos que produzem. 

O silêncio de Jesus encanta. Igualmente, indica-nos como e quando falar. A nós nos convém entender (Jo 7.15b-17; Lc 5.20-26; 1Co 14.26; Cl 3.17).