- setembro 8, 2025
- Pr. Válter Sales
Os próximos textos versarão sobre o que Jesus falou, estando já na cruz. Ao contrário do que de ordinário se diz e se faz, ao analisar as palavras de Jesus Cristo, proferidas enquanto era crucificado, e foram Sete, não me ative a elas somente. Também não pretendi fazer qualquer interpolação ao sagrado texto dos Evangelhos. Apenas quis desdobrá-las, pensando em suas muitas e desafiadoras inferências. Decerto, o leitor disso se aperceberá.
Nenhuma palavra da Bíblia Sagrada é ela só, como a vemos grafada numa página. Ela transcende o nosso entendimento espontâneo e nossas expectativas do que possa representar para nós ou comunicar-nos a priori. A Palavra de Deus contém mais do qualquer ser humano possa depreender de uma leitura apressada ou superficial. Exige mente arguta e verbo criativo.
A palavra não é apenas o som que se articula e se ouve. Há elementos outros que dela emanam ou se inferem. As palavras de Jesus traduzem muito mais do que lemos e ouvimos; tanto que não são apenas articulações, senão Ele mesmo – “As minhas palavras são espírito e vida” (Jo 6.63) – dele mesmo e para os que nele creem. Dessa forma são vistas (não apenas ouvidas) em sua integralidade – essência, destino e propósito.
Um bom estudo do que Jesus disse significa mais do que a sinonímia comum possa oferecer. Imagino as Sete Palavras proferidas na cruz como uma síntese perfeita de tudo o que Ele ensinou e praticou. Uma síntese de si mesmo. Karl Barth deixou-nos uma Introdução à Teologia Evangélica, na qual referiu os efeitos impactantes da Pessoa e dos ensinos do Mestre divino, causados no grupo discipular, os doze, “aos quais deu também o nome de apóstolos (Lc 6.13c); em termos como: Admiração, Abalo, Comprometimento, A Fé, Solidão, Dúvida, Tribulação, Esperança, Oração, Estudo, Serviço e O Amor. Eu, modestamente, apenas inferi das Sete Palavras algumas marcas da Pessoa do crucificado, tais como: A entrega, A comunhão, A qualidade da vida, A mente, A vontade, O corpo, O espírito – o todo, O nosso espírito todo, Ressurreição e Ascensão, A fé, A esperança, O amor.
Não houve de minha parte qualquer presunção de comparar-me ao famoso teólogo e com o que ele escreveu para algumas conferências. Apenas, repito, vi nas palavras do Divino Mestre inferências prováveis e possíveis do que Ele falou. E não digo que as haja esgotado. Homem algum conseguiria fazê-lo.
A cruz – já se disse – é o centro do cristianismo. Não nos esqueçamos, contudo, de que Jesus é a chave hermenêutica para entendermos todo o projeto de Deus com vistas à redenção do ser humano por ele criado, e a quem amou e ama, sem fazer qualquer acepção. O Calvário é o supremo exemplo de renúncia, de sua entrega por amor a todos. É o supremo exemplo do amor – “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.13, 14). Os amigos são aqueles que com Ele se identificam, na sua vontade e nos seus ensinos. Mas, igualmente, esse insondável amor se revelou no pedido de perdão para os próprios algozes (Lc 23.34a).
Assim, e para que este adendo não se torne mais extenso que o necessário, deixo aos atentos leitores a ventura que a graça sempre nos propicia, de avançar um pouco mais, para além das palavras que Jesus proferiu na cruz. O que Ele disse vai muito além das palavras. A própria palavra de Deus, exarada nas Sagradas Escrituras, é inesgotável. Como os seus feitos não foram todos registrados (Jo 21.25), creio que igualmente suas palavras não foram anotadas na sua totalidade. A mente humana jamais alcançará o todo do que Deus é, diz e faz.
Dessa forma, nada mais é-nos indicado do que, humildemente, inclinar nossa mente diante da grandeza do que está escrito, abrir o coração para receber a palavra e quem a proferiu; manter-nos em postura genuflexa, reverente, piedosa, quanto nos seja possível.
