- novembro 27, 2024
- Pr. Válter Sales
A sétima I – A Entrega –
“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). Mateus, Marcos e João falam mais do escárnio ou de um grande brado. Somente Lucas refere integralmente as últimas palavras de Jesus na cruz.
No cimo da cruz Pilatos mandou gravar: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS, em hebraico, latim e grego – línguas da religião, da política e da cultura. Jesus é um fenômeno universal, para além da etnia judaica e dos limites da Palestina.
Está explícito o motivo da execução: “crimen laesae majestatis” – traição. A Roma não preocupava a blasfêmia religiosa. Era isso uma competência do Sinédrio.
O mundo inteiro deveria saber que o crucificado era o Rei dos judeus, não obstante a ressalva e a repulsa por Ele (Jo 19.21).
O retorno para o Pai, depois de cumprida a missão, é o que mais nos fascina, a esta altura.
Voltar “para o Pai” fala-nos de uma única essência. Do Pai ele “saiu”; não veio como um mandado qualquer…
Jesus é um com o Pai (Jo 10.30). Já a cristologia de João dá-nos conta disto (1.1, 14). E não dependemos de Niceia e de Calcedônia para crer nesta verdade. Basta-nos a Palavra!
É fundamentalmente uma questão de fé. Uma fé tão consistente que se faça experiência – uma forma de ver e de ser.
Claro que não se trata de uma questão puramente cognitiva. Saber sobre o Cristo é uma coisa. Viver o Cristo é outra (Gl 2.20; Fp 1.21).
A entrega do espírito a Deus abrange o todo de si mesmo. A cabeça perfurada por espinhos; o dorso ferido, sangrando; pés e mãos transpassados por cravos; o peito lancetado; o coração, parado num corpo já sem vida; mas, quarenta dias depois, em ação no céu (Rm 8.34).
Machucado no espírito, Jesus se entregou ao Pai, em quem todas as angústias são controladas ou eliminadas (Sl 18.6).
Do começo ao fim de sua vida terrena, a entrega foi sua marca pessoal e divina. Pessoal, porque ele assumiu nossa realidade humana. Divina, porque Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo se caracterizam por uma harmonia absoluta.
Quem se rende ao Absoluto é pessoa, criada à sua imagem e semelhança.
