- dezembro 19, 2024
- Pr. Válter Sales
A sétima XI – A Esperança –
“… entrego o meu espírito” (Lc 23.46). A morte de Jesus abriu para sempre as portas da Graça de Deus.
A falta de esperança guarda certa similitude com o niilismo nietzschiano. O que é similar é mais que semelhante. Ao similar atribui-se a mesma natureza. Já a semelhança tem qualidade de…, tem identidade, é análoga. O similar condiz melhor com a “conformidade” da teologia paulina (Rm 8.29). (Considero não estar imponto ao texto bíblico o que me fervilha na cabeça).
É algo condizente com a “imagem e semelhança”, de Gn 1.26; cf. Jó 33.4). Não sabemos se a sagaz serpente tinha ideia do alcance de sua insinuação (Gn 3.5). Seguramente, não; nem era ser humano… É preciso estar no Espírito para discernir as coisas do Espírito (1Co 2.14).
A narrativa de Gênesis guarda, embutido nas entrelinhas, um como corretivo aos que se excedem na autopromoção. Fazem-se super-homens ou semideuses, como se a “solução” de Nietzsche fizesse crescer aquele que é simplesmente um ser humano comum (Rm 12.3).
Do senso comum, “não pôr o chapéu onde a mão não alcança”, à refinada literatura machadiana, “o tipo de botas que usamos pode maltratar os pés…” (Memórias Póstumas de Brás Cubas, Cap. XXXVI), a nós nos compete e nos convém situar em bom juízo o como nos catalogamos.
Vetor dos mais elevados propósitos humanos, a esperança, invencível por natureza, nutre o sentido de nossa existência, enquanto nós a subjugamos ao desalento e deixamos de sonhar, de idealizar, de agir, de vencer, afinal.
É o modo primário de definhar o espírito e de ensombrar a visão. Quem perde a visão perde a esperança e vice-versa. Isto foi dito a Israel em momento grave de batalha (Dt 20). Distenda, leitor, esse texto a outros, largamente análogos, como em João 16.33b e 1Co 15.58.
Temos lutas na vida? Sim, nós as temos. Essas lutas marcarão nossa trajetória até o fim. Enquanto aqui, vivos, seremos embate e resistência a muitos fatos de nossa existência, de forma direta ou indireta. Confira Sl 66.10. O que nos ocorre obedece a algum propósito (1Co 10.13).
Necessário é não desanimar. Não arrefecer. Nosso desânimo aumenta o elã do inimigo, dá-lhe combustível, fá-lo maior que nós. A resistência tem preço, mas, igualmente, propicia-nos elevação moral (Gn 50.20; Fp 1.12ss; Sl 34.19; 1Co 10.13; 2Co 4.8ss).
Confesso que relutei em citar Hb 12.4-13. Mas, tomado de certo garbo, induzo o leitor a 2Co 6.4-10.
Esquecido da esperança? De forma alguma, sobretudo por não tratá-la como uma abstração. A esperança cristã é real e nos liga ao porvir (1Co 15.19). Mas, de igual modo, liga-nos ao presente. É o que se vê (Rm 8.24).
Se cremos na Palavra de Deus, e é de se esperar que creiamos, encorajemo-nos com Rm 8.31-39 e 12.12a.
Ah, leitor, vá também a Dt 4.7; Mq 4.5; Hc 3.17-19; Jr 29.11; Sl 37.4, 7; 138.8; Lm 3.21-26; Fp 4.4; e espere no Senhor, nele alegrando-se, enquanto permanecer agindo sob a égide de sua autoridade e do seu amor.
Com essa experiência, renovar-se-á, dia a dia, a sua esperança! (Rm 5.1-5).
