- outubro 14, 2024
- Pr. Válter Sales
Ao refletir sobre a última ceia de Jesus com os seus discípulos, idealizei enfeixá-la num Acróstico.
Acróstico é uma composição poética em que um nome (tema) que se queira descrever é formulado, dispondo-se suas letras em linha vertical. “As iniciais de cada verso formam uma ou mais palavras” (Dic. da ABL).
No caso em análise, tem-se uma criação, não propriamente um nome. Daí surgiu IDAE, para Ironia, Dúvida, Acusação e Extremo. Pura inferência, a provocar muxoxos em críticos literários.
Inferências. Eis o que narradores deveriam conferir, como direito, aos leitores. Ninguém é dono da última palavra ou razão pura.
Lembra-me Machado de Assis ao desabafar: “Detesto o escritor que me diz tudo”. Malgrado seja um desabafo de um homem introvertido, leitor de Schopenhauer e do Eclesiastes, deve o autor esse respeito aos seus leitores.
Vamos à primeira letra de IDAE – Ironia – numa celebração de comunhão, tal que, e em que, Jesus fala de sua dádiva vicária.
- Não é irônico que todos estejam em torno ou diante da mesa do Senhor,
quando, em verdade, não eram tão irmanados? - Não é irônico que, em tal celebração, houvesse gente preconceituosa,
xenófoba, de modos grosseiros, incrédula e presa a encardidas tradições? - Não é irônico que à mesa da comunhão com o Senhor estivesse um
Judas, traidor, que, já antes, havia tramado a entrega de Jesus aos seus algozes? - Não é irônico que o ato iníquo fosse selado com uma saudação
respeitosa – “Mestre” – e com um beijo?
E, hoje, não é irônico que irmãos, em franca dissimulação, apresentem-se à Mesa da Comunhão, enquanto vivem desfraternizados?
Tais encenações no altar deslustram o ato cristão e se desviam de seu verdadeiro sentido e propósito.
Cabe, nesses casos, indicar a exortação paulina, em 1Co 11.28, 29.
Discernir diz de comunhão
